Três anos depois, áreas afetadas ainda recebem obras de recuperação de infraestrutura. Memorial recebeu amigos e parentes de vítimas na manhã deste sábado (15). Cristiane Gross perdeu nove pessoas da família na tragédia de 15 de fevereiro de 2022 em Petrópolis
Rogério de Paula/g1
O dia começou com dezenas de balões em formato de coração espalhados no entorno do Obelisco, monumento bem no centro de Petrópolis, na Região Serrana do Rio. O ato lembra as 242 vítimas das chuvas de 15 de fevereiro e 20 de março de 2022.
O memorial foi organizado pelo projeto social Avança, para que as pessoas não esqueçam das vidas perdidas naqueles dias.
Cristiane Gross, é uma das vítimas dessa tragédia. Ela perdeu nove familiares que estavam na casa dela, na rua Frei Leão, no bairro Alto da Serra, uma das áreas mais afetadas. Ela participou do ato na manhã deste sábado.
“Olhando o céu agora, quero pedir encarecidamente à população de Petrópolis que não sofram da síndrome do céu azul. Gente, não deixe o céu azul enganar vocês. Por favor, não deixe cair no esquecimento!”, disse Cristiane Gross.
Tragédia de Petrópolis completa três anos
Emocionada, Cristiane Gross reforçou a importância de manter essa história na memória, principalmente para que a execução dos projetos de prevenção na cidade não fiquem apenas na promessa.
“A gente tem que cobrar, a gente tem que lutar por políticas públicas que funcionem, por prevenção, que hoje é o nosso foco. Eu não quero que aconteça o que aconteceu com a minha família com outras famílias”, disse.
Memorial pelas vítimas das tragédias de 2022 em Petrópolis foi organizado pelo projeto social Avança
Priscila Torquato/g1
Éveron Dias, organizador do memorial e coordenador do Projeto Social Avança fala da importância contou que é o terceiro ano desse movimento na cidade.
“É muito importante para a gente jamais esquecer do que aconteceu há três anos, no dia 15 de fevereiro de 2022. Esse é o terceiro ano consecutivo que a gente realiza essa ação para poder trazer a memória dessas 242 pessoas que se foram, das famílias que sofrem até hoje, e, principalmente, a gente jamais esquecer do que aconteceu”, explicou.
Na manhã deste sábado, vítimas das tragédias de 2022 em Petrópolis foram lembradas em memorial no monumento Obelisco, no Centro da cidade
Priscila Torquato/g1
15 de fevereiro de 2022
No dia 15 de fevereiro daquele ano, a cidade de Petrópolis era atingida por uma chuva volumosa que em poucas horas matou 235 pessoas e deixou mais de quatro mil desabrigadas ou desalojadas.
Homem carregam corpo após tragédia em Petrópolis
REUTERS/Ricardo Moraes
Segundo dados da Defesa Civil Municipal, em três horas choveu 250 milímetros, mais do que o previsto para todo o mês de fevereiro daquele ano.
Mais de 20 regiões registraram deslizamentos de terra e escorregamento de rochas. Os rios que cortam a cidade transbordaram.
Fernanda Mina não perdeu nenhum familiar, mas viu amigos que conhecia desde a infância morrerem. Moradora da rua Hercília Moretti, no Alto da Serra, viveu uma cena de filme de horror naquele dia, como ela mesma descreveu.
Fernanda Mina perdeu amigos e vizinhos que conhecia desde a infância em Petrópolis
Priscila Torquato/g1
Foram mais de nove horas para chegar em casa, um trajeto que normalmente levaria 15 minutos no transporte público. Um dia que mudou a vida dela. Durante a homenagem deste sábado, relembrou dos amigos e vizinhos que morreram naquela dia, e orou por eles.
“Mudou o emocional, muda a vida da gente de ponta a cabeça. Não tem um dia da minha vida que eu consiga esquecer tudo que aconteceu, mesmo porque, eu moro no Alto da Serra a minha vida toda. Eu conhecia a maioria das vítimas, das crianças até os idosos. E esse fato mexe comigo. Vai ficar marcado para o resto da minha vida”, desabafou.
20 de março de 2022
No dia 20 de março, mais chuva e mais vítimas. Deslizamentos de terra mataram sete pessoas nesta data. Os números impressionam, mas a preocupação é de que não fiquem só nas estatísticas, principalmente para aqueles que perderam alguém querido.
Imagem mostra vítimas e o antes e depois da casa na Rua Washington Luiz que foi destruída após deslizamento de terra em 20 de março de 2022 em Petrópolis
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Obras e reconstrução da cidade
De acordo com a atual gestão municipal, sete obras estão em execução pela prefeitura, somando um investimento de quase R$ 35 milhões.
Elas acontecem dos seguintes pontos:
Duas na Castelânea (contenção e drenagem na rua Primeiro de Maio e contenção e drenagem na Servidão Modesto Garrido)
Três no Morro da Oficina, no Alto da Serra (construção de barreira inelástica e drenagem, ambas na área 2. Drenagem e contenção de encosta, na área 3)
Na 24 de Maio (com a contenção, drenagem e reconstrução da quadra da Escola Municipal Clemente Fernandes)
Além da demolição de resquícios de construções edificações atingidas por escorregamentos e enxurradas em diferentes pontos da cidade
Ainda segundo o governo municipal, outras onze obras já estão inscritas em programas federais como o PAC e convênios com o Ministério do Desenvolvimento Regional, que estão em fase de captação de recursos, somando mais de R$ 60 milhões.
Há também obras que estão sob responsabilidade do estado, como o Túnel Extravasor. O Programa Limpa Rio, também do Estado vem desassoreando os corpos hídricos que cortam a cidade com o objetivo de ampliar a capacidade de vazão da chuva evitando novas inundações.
A gestão municipal anterior informou que concluiu 125 obras de grande e médio portes, sendo a maior parte de contenção.
As obras do Morro da Oficina, complexas e de grande porte, foram deixadas em fase final de conclusão.
“Outras áreas também receberam obras de contenção e reconstrução com recursos próprios da Prefeitura, como Sargento Boening, Chácara Flora e Vila Felipe. Obras 100% custeadas com recursos do Tesouro Municipal”, diz trecho da nota enviada ao g1 pela assessoria do ex-prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo.
Ato em Petrópolis relembra 242 mortes na tragédia climática de 2022: ‘Não deixe o céu azul enganar vocês’
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